sábado, 5 de setembro de 2009

O Túmulo do Mestre Irineu


* Juarez Duarte Bomfim
No seis de julho de 1971 o Mestre Raimundo Irineu Serra fazia a sua passagem para o mundo espiritual. Pouco antes disso, pessoalmente ele escolheu o local onde deveria ser deitado o seu corpo a terra fria, em terras da sua propriedade, no Alto Santo, atual Vila Irineu Serra, em Rio Branco-Acre.
Pisei na terra fria
Nela eu senti calor
Ela é quem me dá o pão
A Minha Mãe que nos criou
Foi em um lote de terra em frente a sua residência, do lado oposto ao antigo ramal, atual Estrada Raimundo Irineu Serra. Hoje, na antiga moradia do Mestre Irineu está abrigado o Memorial da Doutrina, situado ao lado esquerdo da residência da Madrinha Peregrina Gomes Serra, viúva do Mestre e dignatária do CICLU Alto Santo.
Vizinho ao túmulo do Mestre, localiza-se a casa de Leôncio Gomes da Silva e familiares (na Estrada Raimundo Irineu Serra, nº. 3838). Seu Leôncio foi designado para ser o presidente do Centro Livre fundado por Mestre Irineu. A escolha do lugar foi para que os familiares do seu Leôncio assumissem a responsabilidade pela limpeza, organização e segurança do recinto sagrado.
Dona Hortênsia Gomes, filha do seu Leôncio, cumpriu com eficiência essa missão até a sua passagem para a vida espiritual, em 2004. Hoje os cuidados com o Túmulo são da responsabilidade da própria Madrinha e as mulheres da irmandade.
O Túmulo do Mestre Irineu é lugar de devoção e peregrinação dos seus devotos; pouso dos aflitos, consolo dos desesperados que ali vão meditar e orar, em busca de uma luz, uma instrução.
É sítio também dos afortunados merecedores da Providência Divina que para lá se deslocam no intuito de agradecer as graças alcançadas. Lugar de pagamento de promessas, a prática de fiéis depositarem ex-votos no Túmulo foi desestimulada pela administração do lugar, e caiu em desuso. Ali não mais ocorre esse tipo de manifestação religiosa popular.
A ambiência é perfeita para o recolhimento meditativo: o Túmulo é envolvido em um lindo jardim de belas flores, onde silenciosos chegamos a este jardim e rogamos a Piedade da Mãe Divina. Ás vezes alegres vozes de crianças se ouvem ao longe, na vizinha Escola Raimundo Irineu Serra, herdeira da Escola O Cruzeiro, fundada pelo próprio Mestre Irineu.
Em meditação, sentimos a luz e força irradiada de dentro daquele mausoléu de azulejos azuis, e lembramos dos versos de conhecido hino doutrinário: “muitos pensam que é falecido, mas é vivo meu São Irineu”...
Sobre a tumba foi esculpida uma Cruz de Caravaca, logo abaixo está incrustada uma fotografia de Raimundo Irineu Serra com as datas de nascimento e falecimento (15/12/1892 – 06/07/1971). Depositados sobre o jazigo estão vasos de flores um porta-retrato com a fotografia do Mestre Irineu e permanentemente muitas velas acesas, sinal de eterno zelo dos seus fiéis pela memória do Querido Padrinho Irineu.
Á esquerda do sepulcro do Mestre descansa o corpo de Leôncio Gomes da Silva (11/02/1918 – 17/03/1980); à direita estão depositados os despojos do amigo e discípulo de primeira hora José Francisco das Neves Junior (22/10/1908 – 08/10/1990).
À direita dos túmulos dos três amigos e companheiros em Cristo encontramos um busto do Mestre Imperador Raimundo Irineu Serra Juramidam, feito em cimento e gesso e pintado de tinta metálica prateada: nesta iconografia o Mestre é representado com os olhinhos fechados, mirando...
Para garantir a memória e preservação do lugar, em 05/09/2006 um conjunto de edificações no Alto Santo foi tombado simultaneamente como patrimônio histórico e cultural de Rio Branco e do Acre, por decretos simultâneos do então governador Jorge Viana e do prefeito Raimundo Angelim. Entre outras edificações, o Túmulo do Mestre Raimundo Irineu Serra foi declarado Patrimônio do povo acreano.
Nesse recinto acontece na tarde de seis de julho, a partir das quatro horas, o principal evento anual de congraçamento de todos os centros livres daimistas que porventura possam estar ali representados: a Santa Missa rezada pela Madrinha Peregrina em memória do aniversário da passagem de Raimundo Irineu Serra para a vida espiritual. Após o ato litúrgico, todos se dirigem para os seus respectivos centros e igrejas para cantar o Hinário O Cruzeiro Universal, em louvor ao Divino Pai Eterno e a Rainha da Floresta.
Meu corpo na sepultura
Desprezado no relento
Alguém fala em meu nome
Alguma vez em pensamento?

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* Juarez Duarte Bomfim é professor universitário na UEFS-Bahia. Sociólogo e Mestre em Administração pela UFBA. Doutor em Geografia pela Universidad de Salamanca-España.

Formação da fila no enterro do Mestre


Essa formação no enterro do Mestre foi feita pelo seu Daniel, que segundo ele, foi chamado pelo Mestre um dia antes dele falecer e disse: “Aconteça o que acontecer, não esmoreça” (palavras do Seu Daniel Serra). No relato de seu Daniel, essas palavras vieram neste momento e ele colocou o pessoal nesta formação (foto e texto gentilmente enviados por Mivan Gedeon, com as bençãos de Daniel Serra).
Segundo parte do depoimento de Jairo da Silva Carioca " Durante o restante do dia e toda a noite de 06 para 07 de julho, foram cantados os hinários base da Doutrina por ele difundida. A emoção e o sentimento de dor e tristeza era visíveis, principalmente na execução dos hinos do hinário O Cruzeiro. O semblante de cada seguidor parecia flutuar em um fato que jamais eles esperavam que fosse acontecer naquele momento. Ao amanhecer, após longas horas de palestras e discursos de autoridades e oradores do centro, acompanhados pela Banda da Polícia Militar, em toque fúnebre, perfilados em fileiras masculinas e femininas, o Batalhão cantando os hinos novos, seguia para a morada final escolhida pelo Mestre, bem ao lado da residência de Leôncio Gomes da Silva, onde seu caixão baixou no túmulo envolto à bandeira nacional. A irmandade dava adeus ao Mestre, comovida, os 71 anos de história marcavam aquele momento inesquecível. Os mistérios e encantos de uma vida dedicada à bondade e ao companheirismo; abria-se um novo capítulo na história daquele povo. O Mestre agora descansa deitado eternamente em berço esplendido, ao som do mar e à luz do céu profundo".


Fonte: www.afamiliajuramidam.org

“Minha mãe, minha Rainha”


Irmã do Mestre, dona Maria Matos, mãe do seu Daniel Serra. Na foto ela está ao lado de dona Otília, esposa do seu Daniel e sua filha Maria. Dona Maria Matos, carinhosamente "Vó Cota", de "mariacotinha" (diminutivo muito usado no interior do Maranhão), chegou a tomar daime, inclusive, a morar em Rio Branco, após a passagem do Mestre. Teve a graça de receber dois hinos, um deles muito cantado no Centro de Luiz Mendes. É curtinho, mas bastante significativo... "Meu Barquinho azul/ Todo embandeirado/ Com poder divino/ Eu já estou curada (o)”. O outro, poucas pessoas lembram (foto retirada do álbum de família do seu Daniel Serra, gentilmente enviada e comentada por Mivan Gedeon). Juarez Duarte Bomfim acresta: "A Vó Cota, irmã do Mestre Raimundo Irineu Serra, foi levada pelo seu filho Daniel Serra para conhecer as terras sagradas do Alto Santo e lá permaneceu residindo (Rio Branco-Acre). Conta-se que, em visitas diárias ao túmulo do Mestre, ela entrava em longas conversações com ele, o Mestre Irineu. Quem passava pela estrada em frente ao mausoléu do Mestre nos finais de tarde a encontrava em animada conversação com o invisível. O singelo hino por ela recebido, hoje tem a graça de fechar o trabalho de Cura e Chamados do Padrinho Luiz Mendes, quando o Saturnino Mendes nos conta um pouco da vida desta simpática velhinha".

Fonte: www.afamiliajuramidam.org